Luiz Roberto Benatti exerceu várias profissões, como professor, jornalista e revisor. Co-fundador do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Catanduva, no final dos anos 60, foi perseguido pelos militares durante a Ditadura e transferido a uma prisão em Lins. Luiz Roberto Benatti nasceu em 5 de março de 1943, em Santa Adélia. Filho de cafeicultores, morou em várias cidades antes de chegar a Catanduva na década de 50, como Cedral e Pindorama. Cursou Pedagogia, Administração Escolar e Orientação Pedagógica, além de cursos de Lógica na Universidade de São Paulo (USP). Lecionou em vários colégios de Catanduva e região e sempre dedicou sua vida ao magistério e jornalismo. Foi revisor e colaborador do Estadão, Folha de São Paulo, Isto É e A/Z, além de traduzir peças de Samuel Beckett e autores como Andrè Gide e Garcia Lorca. Também publicou poesias e ensaios e fundou uma editora. Domina o Inglês, Espanhol, Francês, Italiano, Alemão e Latim. Atualmente está terminando o mestrado na área de Educação, Arte e História da Cultura no Instituto Presbiteriano Mackenzie; sua tese é sobre João Guimarães Rosa e Joseph Beuys. Ocupa o cargo de assessor técnico da Coordenadoria da Cultura e é responsável pela criação e geração de programas para os museus de Catanduva. Em entrevista especial ao NM, Benatti lembrou a época em que esteve preso durante a Ditadura e comentou sobre a atual situação do governo brasileiro. NM – Professor, o gosto pelas artes, principalmente literatura, é uma tradição de família? Benatti – Sim. No lado paterno, fisguei o interesse pela linguagem e a literatura. Tenho a impressão de que isto se deve ao fato de ter ascendência italiana – o povo italiano, ao cruzar o oceano, deixou para trás sua cultura, que só pode ser resgatada através da linguagem. Outra questão é a do magistério. O meu avô paterno ajudou a fundar escolas na região de Santa Adélia, sem contar alguns tios meus que foram professores. Em São Paulo, por exemplo, há uma escola com o nome de uma tia, Olga Benatti. Comecei a dar aulas muito cedo, não como professor oficial. Primeiramente, como tinha gosto pelos estudos, tornei-me professor de meus colegas e ganhava uns trocados com isso. Mais tarde, através do extinto Curso de Adestramento de Professores para o Ensino Secundário e Normal (CADES), passei a lecionar Língua Portuguesa e Literatura. Dentre as escolas, estive no Instituto ‘Barão do Rio Branco’, Colégio das Irmãs, Objetivo, São Mateus e escolas de Pindorama, Santa Adélia, São Paulo e São Bernardo do Campo. NM – Como ocorreu sua prisão durante o Regime Militar? Benatti – Só para entender melhor, existia, na década de 60, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) – que não agia diretamente no interior –, e suas ações se faziam através das unidades de exército. Sem contar os ‘listões’: uma pessoa listava as figuras tidas como subversivas. Bom, em novembro de 1970, no ‘Dia de Finados’, fomos confinados. Eu, Luiz Carlos Rocha, Eddie José Frey, Tácito Ribeiro Costa, Dr. Quelhas e Vicente Celso Quaglia, todos catanduvenses, fomos conduzidos à Unidade de Exército de Lins. Nessa época, exercia a função de professor de Literatura no ‘Barão’. Houve o caso do meu amigo Júlio Verna, já falecido, que era chefe do Partido Comunista em Catanduva, que não foi localizado e ficou escondido, ou seja, não foi preso. Éramos 250 presos da região na unidade de Lins. Nessa mesma semana, cerca de 10 mil pessoas foram presas, embora os brasileiros, de maneira geral, não tivessem conhecimento disso. NM – De que maneira ficou sabendo da prisão desses 10 mil brasileiros, se o senhor já estava confinado? Benatti – Soubemos disso porque havia um rádio, introduzido por um de nós, e sintonizávamos a rádio de Havana (Cuba). Foi através dela que ficamos sabendo da prisão dos brasileiros. Semanas depois, o comandante soube do rádio e confiscou o equipamento. Ficamos reduzidos a um livro. Para se ter uma idéia, os militares chegaram ao absurdo de proibir a gente de tomar banho de sol. Na hora do banho, éramos vigiados por um soldado que carregava um fuzil, uma situação vergonhosa e humilhante. A Ditadura não brincou e nós também não brincamos com ela. Havia um confronto. Com a nossa prisão, em 1970, a cidade ficou abalada. Os militares cercaram o quarteirão de nossas casas e não era permitido indicar o local para onde você era conduzido. NM – O senhor teve relação direta com a política? Benatti – Poucos sabem, mas fui co-fundador do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em Catanduva. Em 1968, depois do Ato Institucional nº 5 (AI-5), ficamos sem partido – fim do pluripartidarismo -, todos eles caíram na clandestinidade. O partido da ‘Arena’ foi o primeiro a ser formado e era de situação. Daí, fomos para a Arena por estratégia política. Nesse momento, dizia Ico Ceneviva, um dos fundadores do MDB: “Estamos no alto de uma escada com uma brocha de pintor na mão; o Orlando Zancaner (que controlava a política de Catanduva), a qualquer momento, vai mandar tirar a escada”. Não deu outra: Zancaner ficou sabendo que éramos infiltrados e nos tirou fora desse partido. O partido do MDB nasceu em Catanduva de um confronto direto com a ditadura, simbolizada pela Arena. NM – Qual seu ponto de vista sobre a crise que atravessa o nosso país? O PT está com seus dias contados? Benatti – Grande parte da intelectualidade brasileira, sejam os jovens ou idosos, viu no PT a bandeira da esperança. O que fazer para corrigir estruturas econômicas arcaicas, o ‘status quo’, dentro do sistema de produção? O que fazer para colocar o sistema de produção capitalista num outro momento – aquilo que Karl Marx recomendou que se fizesse? Quando as estruturas econômicas não podem mais garantir o sustento básico da população em larga escala é necessário corrigir os processos econômicos, chamado então de socialismo. Inegavelmente o PT representou essa bandeira. O problema é que o partido ainda se mostra como não-aliancista, desunido, e acaba indo ao poder praticamente sozinho. Percebe-se, então, que não dá conta do recado, pois a burocracia e a administração são amplas. Estamos no terceiro ano do PT no poder do Brasil e vemos que o partido sofreu, agora, uma queda brusca e encontra-se desorganizado. Tanto a renúncia do ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, quanto a escolha de Aldo Rebelo para substituí-lo, mostram que o governo está desarvorado, perdido. BOX Espectros Luiz Roberto Benatti Cumpre-se aos trambolhões o pesadelo de Karl Marx Quem o rememora? A pele suja das letras esfarela-se e cai Onde se escondia o sol rubro da natureza Apareceram A ferrugem da matéria-prima o elmo apodrecido da mercadoria o câncer verde-musgo da sucata a gosma adocicada da bactéria o lodo fermentado o mau cheiro do gás carbônico a grande bola de fogo o sorvete derretido dos pólos o plâncton empalhado a sexta morte do tubarão azul a nudez emporcalhada dos mundos paralelos o bismuto do fascismo o lençol coberto de sangue da barbárie Adeus, Karl com os fios azuis de tua barba, Penélope tece a mortalha de George Bush. Adeus, Karl, os mortos não assobiam blues no escuro &, para quem sempre urinou ouro & soberba, o inferno é muito pouco para GB.
http://www.noticiadamanha.com.br/capa/lenoticia.asp?ID=10667
Nenhum comentário:
Postar um comentário