Parece que foi ontem. As mulheres usavam toalhinhas higiênicas “naqueles dias” e não ficava bem pronunciar a palavra menstruação em alto e bom som, mesmo numa conversa entre amigas.
Nos dias de hoje frequentemente se dar como adquirido que noutros tempos alguns assuntos eram tabú e as pessoas viviam fechadas num certo convencionalismo. Por isso não deixa de ser surpreendente, e desmistificador, vá lá, que num cartaz com 50 anos já se propagandeasse esse modernismo e esse à vontade das raparigas “já então modernas” em contraponto às suas avozinhas.
O Modess, da Johnson & Johnson, é o primeiro absorvente descartável a chegar ao Brasil. O produto, que era importado de fábricas nos Estados Unidos, só começou a ser industrializado aqui no Brasil em 1945.
Uma das maiores recordações higiênicas e motivadoras deste registro está baseada em uma série de toalhinhas felpudas que se apresentavam, constantemente, nos varais do meu quintal . Tinham uma dimensão diferente das toalhas de rosto tão utilizadas pra enxugar as mãos e o rosto. Suas medidas não ultrapassavam de 0,20 x 0,20. Suas cores eram diversas.
Esses pedacinhos de pano muito me chamavam a atenção. Hoje sei que não essa atenção não era provocada propriamente por eles, era mais pela proibição que nos tinha sido decretada de neles mexerem. Por que não podíamos (eu, meu irmão e meu primo) enxugar as mãos naquelas toalhinhas?
Enxuguei minhas mãos nelas algumas vezes até que, numa dessas vezes, fui surpreendido por minha mãe. Belas chineladas recebi e, então, por medida de "segurança nadegal", nunca mais delas me aproximei.
Apenas muitos anos depois, já na minha adolescência (não tínhamos, que me lembre, naquela época a aborrescência) é que fui saber a verdadeira aplicação daquelas misteriosas toalhinhas.
A Johnson & Johnson em 1933 lançou no Brasil o absorvente feminino “Modess”, a escassez na 2ª. Guerra fez com que esse lançamento não tivesse a repercussão necessária, depois já no pós-guerra, as mulheres, incluindo nelas, minha mãe e minhas tias, sentiam vergonha de pedirem esse produto aos farmacêuticos.
E, assim, só ao longo dos anos, na minha adolescência tive contato com o “Modess” e me despedi visualmente das toalhinhas absorventes. Os varais da Rua Augusta se tornaram menos congestionados todos os meses, porém o lixo sanitário teve o volume aumentado.
O que aumentou também foi o meu conhecimento de higiene, hoje eu registro esta memória que faz parte do meu passado.
Os primeiros absorventes não eram aderentes á calçinha e eram presos por alfinetes ou "cinturão sanitário", que nada mais era do que uma cinta plástica colocada em volta da cintura.
Nos anos 50, os folhetos informativos voltaram com força total. Todas as marcas ofereciam livretos gratuitos que falavam sobre o ciclo menstrual, a anatomia feminina, mitos sobre a menstruação e expunham algumas dicas e cuidados que nenhuma mulher tinha coragem de perguntar. As propagandas desse período mostram mulheres fabulosas, ricamente vestidas, na velha associação de um produto com a prosperidade que dele pode vir. Nas capitais brasileiras, a difusão da marca Modess seria tão forte que o nome viraria sinônimo do objeto como Coca é sinônimo de refrigerante. Por aqui, a solução para atender aos chamados da mídia e driblar a timidez foram os famosos papeizinhos; as mulheres chegavam ao bancão e não diziam nada para o vendedor que devia ser discreto na leitura e atendimento do pedido. O Modess entraria para a antologia da propaganda nesse país com a frase: incomodada estava a sua avó.
http://obviousmag.org/archives/2008/10/publicidade_higiene.html
http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=5503
http://obviousmag.org/archives/2008/10/publicidade_higiene.html#ixzz1cgy9q662
Não encontrei vídeo anterior á este do modess aderente em 1976, então pressuponho que este seja o primeiro comercial de absorvente feminino na tv brasileira.
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