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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cascatinha e Inhana, nossos aplausos!



Quando Francisco dos Santos (20/04/1919 - 14/03/1996) topou com Ana Eufrosina da Silva (28/03/1923 - 11/06/1981) sua vida tomou outro rumo.
          Ele estava em Araras, no interior paulista, se apresentando com o Circo Nova Iorque, e ela foi assistí-lo. Ela tinha 17 anos, estava noiva, mas seu destino estava escrito.  "Quando vi aquele mulato tocando violão, me apaixonei" contou ela.
          O violeiro e a moreninha se casaram cinco meses depois, no dia 23 de setembro de 1941. Romance que daria pra virar música, filme e poesia. Cantaram nos picadeiros de centenas de circos por todo o país, gravaram 54 discos de 78 rpm e 30 LPs. Venderam milhares de discos numa época em que vitrola era artigo de luxo. Cantaram o Brasil mulato, o Brasil Caboclo, o Brasil fronteiriço a outros sons e culturas, traduziram a linguagem rítmica e poética de um país que nos anos 50 vivia um acelerado processo de urbanização.
          Cascatinha, como contava, ganhou o apelido ainda na infância, por matar as aulas pra tomar banho de cascata. Outra versão sobre o apelido, é que este teria surgido depois da formação da parceria com Chope, em alusão à cerveja "Cascatinha" .
        Do casamento surgiu o Trio Esperança (Cascatinha, Ana e Chope). Com o desentendimento de Cascatinha e Chope, Ana começou oficialmente a dividir os palcos com o marido. Cascatinha achou que "Inhana", corruptela de Sinhá Ana, seria ideal pra ela. Assim, em 1942 surgia a dupla que faria história.
          Foram contratados pelo Circo Estrela Dalva e, entre diversas excursões pelo Brasil, atuaram também em outros circos e também no Parque de Diversões Imperial. Em 1947, quando o parque passou por Bauru-SP, Cascatinha e Inhana assinaram um contrato de um ano com a Rádio Clube de Bauru. Nessa ocasião, cansados que estavam de tantas andanças, acharam que “seria a hora de dar uma pausa”. 
          Assim, em 1948, um novo rumo: a Capital Paulista. Contratados pela Rádio América, foram morar num "quarto e cozinha" no Ipiranga. Dois anos depois, foram para a Rádio Record, onde permaneceram por 12 anos.
          Em 1951, Raul Torres, (que Cascatinha e Inhana já conheciam desde os tempos em que tentavam a sorte no Rio de Janeiro), juntamente com Florêncio e Rielli, tinha um show marcado na cidade de Jundiaí. Como Raul havia adoecido, sugeriu que Cascatinha e Inhana o substituíssem. E, nesse show, apesar do cachê razoável oferecido e que havia chegado "em boa hora", Cascatinha e Inhana interpretariam somente a célebre "Ave-Maria no Morro" (Herivelto Martins); no entanto, foram aplaudidos de tal modo que só conseguiram sair do palco após cantar mais uma meia dúzia de outros sucessos!
          Nesse mesmo ano, Raul Torres, quando soube do sucesso do casal em Jundiaí, convidou Inhana para fazer o acompanhamento vocal nas gravações das Modas de Viola "Rolinha Correio" (Raul Torres - Sebastião Teixeira) e "Pomba do Mato" (Raul Torres), na Todamérica, gravadora na qual Raul tinha boa influência. E, já no dia seguinte, o primeiro disco foi gravado: um 78 RPM contendo “La Paloma” (S. Yradier – Versão: Pedro Almeida) e “Fronteiriça” (José Fortuna), lançado em julho de 1951. José Fortuna, por sinal, era o compositor preferido de Cascatinha.
          No quinto disco, também na Todamérica, o maior sucesso da carreira da dupla: as duas conhecidíssimas versões de José Fortuna para as Guarânias Paraguaias “Índia” (M. Ortiz Guerrero - José Asunción Flores - Versão: José Fortuna) (Lado A) e “Meu Primeiro Amor (Lejania)” (Hermínio Giménez - Versão: José Fortuna - Pinheirinho Junior) (Lado B), disco esse que atingiu vendagem “astronômica” superior a 2.500.000 cópias!! Marco, na época, pois foi a primeira vez que um disco de Música Sertaneja atingiu tal vendagem. Um fato inusitado, diga-se de passagem, pois, nos anos 50, poucas pessoas tinham aparelhos fonográficos em casa.
          Tal o sucesso dos dois lados desse 78 RPM, que veio também o convite para participarem do filme, “Carnaval em Lá Maior” de Adhemar Gonzaga, em 1955, filme no qual Cascatinha e Inhana interpretaram os dois sucessos.
          E esse disco demorou a sair, porque o diretor artístico da Todamérica (Hernani Dantas) não o queria gravar pois não acreditava que fosse fazer sucesso. Além disso, ele também argumentava que a versão original em castelhano era conhecida demais, para surgir de repente com uma nova letra diferente.
          Na verdade, Hernani Dantas acabou cedendo aos pedidos insistentes dos ouvintes que escutavam as duas guarânias que o casal cantava ao vivo com freqüência na Rádio Record e que procuravam inutilmente os discos nas lojas, as quais, por sua vez, os encomendavam à gravadora!
          "Índia" e “Meu Primeiro Amor” também foram regravadas ao longo do tempo por grandes nomes da nossa Boa Música Brasileira, tais como Dilermando Reis (em Solo de Violão), Carlos Lombardi, Gal Costa, Nara Leão e Taiguara, apenas para citar alguns.
          Calcula-se que a vendagem de "Índia" e "Meu Primeiro Amor" tanto em 78 RPM, como em LP e CD, pode ter faturado algo como o equivalente à vendagem dos discos da dupla "Chitãozinho e Xororó" no auge da década de 80.
          Em 1954, receberam Medalha de Ouro da Revista "Equipe" e passaram a ser conhecidos como "Os Sabiás do Sertão", pelos recursos vocais e agradáveis nuances desenvolvidos pela dupla. A voz soprano de Inhana é considerada uma das vozes femininas mais perfeitas do Brasil.
           Téo Azevedo considera a voz de Inhana como "a mais bonita e afinada que já surgiu no Brasil desde que Cabral pisou nesta terra. Gal Costa, Tetê Espíndola e Elis Regina, as quais são consideradas por muitos como as maiores cantoras do país, são muito boas, mas afinação e voz bonita igual a de Inhana nunca mais apareceu. Era perfeita".
          O casal "terçava" as vozes como fazem as Duplas Caipiras, porém, a beleza em particular do timbre das duas vozes, aliada à facilidade com que Inhana conseguia "passear pelas notas agudas", mais a sofisticação da "segunda voz" do Cascatinha e os arranjos instrumentais bem elaborados ("Serra da Boa Esperança" que o diga, conforme veremos logo abaixo) deram a Cascatinha e Inhana uma "liberdade incomum" para escolha do repertório, por sinal, um dos mais bem escolhidos, não só na Música Caipira, mas na Boa Música Brasileira, de um modo geral.
          Cascatinha e Inhana também gravaram obras de grandes Compositores Brasileiros tais como “Guacyra” (Hekel Tavares - Joracy Camargo), “Quero Beijar-te as Mãos” (Lourival Faissal - Arsênio de Carvalho), "O Menino e o Circo" ( Ely Camargo), “Flor do Cafezal” (Luiz Carlos Paraná), “Chuá, Chuá” (Pedro Sá Pereira - Marques Porto - Ary Pavão), “Colcha de Retalhos” (Raul Torres), e “Serra da Boa Esperança” (Lamartine Babo) – esta com um excelente acompanhamento de Piano, Orquestra e Violinos em “Pizzicatti”, gravada na Chantecler/Continental! Enfim, um repertório riquíssimo em canções de bastante lirismo, toadas, baiões, xotes, valsas, canções rancheiras e tangos brejeiros, além das famosas versões de músicas latinas, principalmente as já mencionadas Guarânias Paraguaias.
          A dupla ganhou também o Troféu Roquete Pinto em 1951, 1953 e 1954, além de seis Discos de Ouro que ganharam por vendagens de mais de 100.000 exemplares de seus discos.
          Com a morte de Inhana, Cascatinha continuou a se apresentar sozinho em Votuporanga-SP e depois em São José do Rio Preto-SP, onde veio a falecer em 1996, na Beneficência Portuguesa, vítima de cirrose hepática. Viu lançados pela Revivendo dois CDs: “Índia - Volume 1” e “Meu Primeiro Amor - Volume 2”, os quais reuniram 38 músicas de seus antigos discos de 78 RPM. A excelente gravadora paranaense também produziu os volumes 3, 4 e 5 (capa dos cinco CD's à direita) no mesmo estilo dos dois primeiros, formando um conjunto bastante representativo da obra de Cascatinha e Inhana, além do excelente encarte explicativo e dados fiéis do disco original, como acontece em todos os CD's da Revivendo.
          Cascatinha também chegou a lançar no ano seguinte ao falecimento de Inhana o LP "Canto com Saudade". E também participou de uma gravação de “Flor do Cafezal” (Luís Carlos Paraná) juntamente com Rolando Boldrin em 1982, pela RGE (hoje Som Livre).


Cascatinha morreu em São José do Rio Preto – SP, no dia 14 de março de 1996 ; e Inhana morreu em São Paulo, no dia 11 de junho de 1981.

Abaixo vídeos com seus maiores cucessos:













http://www.baudelongplaying.com/archives/1660
http://www.lucianoqueiroz.com/cascatinha.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cascatinha_%26_Inhana


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