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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Recordações do Restaurante "A Cabana"- Por José Carlos Buch

Por José Carlos Buch


                   “Saudade é um sentimento que quando não
                    cabe no coração, escorre pelos olhos.”
                          Bob Marley
      
Há poucos dias, num final de tarde quente de primavera e, em pleno horário de verão, o encontro do mesmo grupo de amigos,  todos cinqüentões pra cima, que se reúnem há décadas,  em todas às sextas-feiras, para um chopp, teve um cenário diferente. 

O futebol, a política  e as  coisas do cotidiano cederam lugar a uma viagem imaginária e inusitada no tempo. 

Tal como estavam reunidos no restaurante “A Cabana”, imaginaram  a mesma reunião acontecendo no outro plano com os personagens que construíram e notabilizaram àquela casa. 

Assim, o palco dessa imaginária reunião  foi o então paradisíaco e antigo  prédio do mesmo restaurante que ficava ao lado do atual, fazendo divisa com o Hotel Lider. Foi possível construir nesse devaneio o interior do velho prédio, acolhedor e nostálgico,  com os seus pilares de sustentação com acabamento em sanca de gesso e, numa das paredes laterais, um afresco enorme em azulejo retratando o porto de Santos e homens fortes, sem camisa, ostentando nos ombros sacas de café, à época a maior riqueza nacional e o principal produto de exportação.  

Há pouco o trem da EFA transportando passageiros acabara de fazer a sua rápida parada com destino a Rubinéia,  então final da linha. Jorge Biazolli, atento a todos e a tudo surgiu sentado na sua tradicional mesa, bem ao fundo do restaurante e próximo ao caixa, com o seu inseparável rádio de pilha Mitsubishi (com capa de couro marrom), depois substituído por um Motorádio (mais potente e moderno,  que tinha ondas médias, curtas e até a faixa de 49 mts.),  ouvia o Osmar Santos da Rádio Globo anunciar as notícias do seu glorioso Santos de Pelé e companhia de tantas conquistas.

Sobre a mesa, o jornal “A Cidade” e a “Gazeta Esportiva”, já surrados,  aguardavam outros leitores que não tardariam a chegar. Fã da transmissão AM(praticamente as únicas que existiam), costumava ouvir o programa do Moraes Sarmento(Rádio Bandeirantes, Tupi e Capital) e nas madrugadas, a partir da 5:00 horas, o programa Zé Bétio (Rádio Record-1970/84 e Capital). Aos poucos a confraria já estaria formada.

O primeiro a chegar foi o Cid Castilho que, após pedir “uma branquinha”(cachaça) e acender um cigarro da marca Continental, sem filtro,  passou a ler as manchetes dos jornais. 

Em seguida o Genésio Gabas sentou-se aguardando os seus amigos de trabalho Milton Basaglia e Edinho, que não tardaram a chegar. Próximo acabara de tomar assento em outra mesa, praticamente apegada, o Dr. Cervantes(cardiologista dos bons e boêmio confesso) e o Dr. Raul Tarsitano (médico em Ibirá), este ladeado pelo sr. Miguel Elias, com o seu tradicional bigode bem aparado e a pequena caderneta de anotações no bolso da camisa. 

Não demorou muito e o Odilon Casseb (tradicional comerciante de jóias e produtos importados), trazendo o tradicional whisky Ballantaine´s,  a carecer do balde de gelo, e portando numa das mãos um maço de cigarros do tipo longo e importado, senta-se na mesma mesa, dividindo o cinzeiro com o Alberto da “Casa Chic” que acabara de atravessar a rua para se juntar à turma e,  fechando o grupo o prof. 

Alencar, fã do cantor Nelson Gonçalves, acompanhado do professor Simiele com o seu inseparável violino do qual tirava sonoras notas.  Por final, surge o professor Geraldo Correia, autor do pequeno livro (sem graça nenhuma) “Minhas piadas dos outros”,  vestindo  no rosto o seu tradicional “Ray Ban”, tipo aviador de lente verde, comprado à prazo na Óptica Ocular na Rua Brasil, próxima da esquina com a Rua Bahia,  de propriedade dos sócios Jaddel Gonçalves Salgado e Acácio Castro Filho que, como é  hábito, senta-se na sua tradicional mesa próxima à parede,  um pouco distante do grupo, logo sacando de um  cigarro para acompanhar a bebida prontamente servida. 

Por sorte, o Pedrinho, garçom sempre afável com a sua emblemática unha do mínimo enorme, prontamente passou a atender a mesa do Jorge, ficando a mesa próxima por conta do Sossego que residia na vizinha Ibirá. 

O chopp da Brahma, então o melhor da cidade, servido com pouco colarinho abriu o virtual encontro e embalou o grupo a reviver momentos históricos e inesquecíveis da vida da cidade,  onde não faltaram a salada mista no capricho(tomate, palmito, ervilha, azeitonas, cebola e fatias de pão) e o melhor lombo no espeto que se conhece,  acompanhado de arroz, vinagrete e farofa, a mesma receita que agrada os comensais até hoje. A voz do Jorge sobressaia-se sobre as demais, sem esconder a sua preocupação em conseguir galinhas para a tradicional e saborosa  canja a ser servida nas madrugadas das noites de carnaval, indispensável para repor a energia dos foliões.

Praticamente todos aceitaram café servido nas xícaras fornecidas pelo “Café Itamaraty” e, ao final, como num passe de mágica, a reunião imaginária se desvaneceu e o Jorge e todos os seus amigos, “cabanenses” de carteirinha, voltaram a ser saudade, para retornarem aos registros nas fotos, nas molduras que ornamentam paredes,  nos jornais arquivados no museu “Mons. Albino”, nas ruas e logradouros, aos quais alguns merecidamente têm os seus nomes perpetuados e, sobretudo, na memória daqueles que não esquecem que a história da cidade foi construída também por estes inolvidáveis personagens. 

Do Jorge que criou o bordão “magra” para ironizar eventual suposto cliente indesejável que adentrava o seu restaurante,  esse colunista e sua esposa Celinha ouviram uma das mais célebres e sábias frases que, passadas décadas, ainda hoje se mantém indelével. Ao ser indagado qual era a receita ideal para bem educar os filhos, sem pestanejar respondeu: – “É dizer não, mesmo podendo dizer sim”. E arrematou: – “Se eu der tudo o que o filho pede, nunca ele irá valorizar a importância de adquirir coisas com o resultado do seu próprio trabalho.”   

O Jorginho (engenheiro), a Tânia (professora) e o Fernando (administrador de empresas e sucessor no restaurante),  estão aí para confirmar o quão sábio era o ensinamento do pai e  fundador da “Cabana”.       

  
(Este artigo presta homenagem também ao Lourival da Silva, garçom da “Cabana” há 42 anos que, junto com a sra. Alice Frezarim Biazolli(viúva do Jorge), constituem memória viva do  mais tradicional restaurante da cidade)

advogado tributário 
www.buchadvocacia.com.br 
buch@buchadvocacia.com.br


Fonte: http://portal.giseleonline.com.br/capa/


Um comentário:

Mariangela Candido disse...

Como não me recordar das maravilhosas "Canjas" que tomei no Restaurante "A Cabana" de madrugada, depois dos bailes de carnaval no Clube de Tênis nos anos 60 e 70!!! Nestas ocasiões o restaurante lotava!Que saudade!