O texto é do professor e jornalista Geraldo Corrêa (1911/1974)
Estou aqui em São Paulo já há alguns dias, vivendo horas de intensa agitação, porque tudo aqui é agitado, é sacudido de um lado para outro, como se o único sentido da existência humana fosse essa movimentação que caracteriza as grandes cidades americanas.
Mas, em que pese esta agitação que absorve, empolga, assoberba o homem do interior, sinto que essa minha Catanduva, aí distante de mim umas centenas de quilômetros, tem qualquer arte de berliques e berloques, por meio da qual prende uma criatura de maneira tal que o sujeito não pode viver muito tempo longe dela, a menos que queira morrer de saudade.
É um mal de que aqui sofrem todos os habitantes de Catanduva, mal que se agrava tanto mais em virtude dos constantes encontros com pessoas que aí residiram e, embora tenham deixado Catanduva há um punhado de tempo, não conseguem esquecer a “Cidade Feitiço”. A doença da saudade se agrava, então, porque há um sabor todo especial, desconhecido, no falar-se de Catanduva quando se está a tão grande distância.
E quando se trata de um homem de jornal, habituado, como eu, a tratar com todas as facetas, com todos os aspectos da vida de sua cidade, então esta permanência de alguns dias longe de Catanduva, esta possibilidade de falar das suas coisas e da sua gente é alguma coisa doce-amarga, triste-alegre, mais ou menos indefinível e misteriosa.
E é nesse instante que o homem do jornal, acostumado a escrever coisas com palavras secas, sem o enfeite das flores da retórica, sente-se com uma vontade louca de ser poeta ou de ser músico para escrever uma “berceuse” perdida de lirismo, ou compor uma “romanza” embriagada de carícias! . . . “Berceuse” ou “Romanza” dedicada à sua inigualável Catanduva.
Jornal “A Cidade” de 10.02.1943 – Arquivo Museu Padre Albino
http://www.catanduvacidadefeitico.com.br
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