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terça-feira, 12 de abril de 2011

Edie Frey, relembrando os tempos da Ditadura.


Rose, Leopoldo Paulino, Edie Frey e sua mulher Marta
TEMPOS DE DITADURA

O advogado, escritor, músico e poeta, Edie José Frey lançou o livro ‘Tempos de Ditadura’, a obra relata suas experiências vividas durante a ditadura militar no Brasil. O lançamento foi realizado no Clube de Tênis de Catanduva.

http://www.tempoderesistencia.com.br/index.php

Preso pela Ditadura, Edie Frey relembra passagem pelo Dops

Nascido em 28 de junho de 1925, em Catanduva, Edie José Frey formou-se em Direito pela Faculdade de Bauru e História, na Fafica. Quando estudante de Direito, foi eleito vereador pelo Partido Republicano (PR), no período de 1964 a 1967, tornando-se alvo da Ditadura Militar. Perseguido, ficou preso por vários dias em Catanduva e Lins. Depois de ser solto, trabalhou em várias áreas, como vendedor de livros, professor de magistério, diretor do Grupo Escolar São Francisco e Octacílio de Oliveira Ramos, ator de teatro, professor de violino e um dos membros-fundadores da Fafica. Recebeu da Câmara Municipal de Catanduva a ‘Medalha 14 de Abril’ em 2003, além do troféu ‘Honra Comunitária’, do Grupo de Poesia Guilherme de Almeida (o qual fez parte), em 1996. Em entrevista especial ao NM, Frey, aos 80 anos, lembrou do período de terror que viveu durante a ditadura e do esforço que fez para estimular e desenvolver a cultura na cidade que tanto amou, Catanduva. NM – Como e quando veio a prisão do senhor durante a ditadura? Frey – Em abril de 1964, fui preso em Catanduva, juntamente com Acácio de Oliveira Santos, Nicanor Nunes (ascensorista do Banco do Estado) e Júlio Verna. Ficamos onze dias presos na cadeia pública, que ficava no antigo prédio do Fórum de Catanduva. Depois fui remetido para São Paulo, quando o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) enviou uma equipe para me buscar. No Dops-SP, fiquei dois dias, porque os vereadores da bancada borelista - que davam apoio ao prefeito Borelli e a qual eu pertencia – foram todos até São Paulo e fizeram um pedido ao Laudo Natel, vice-governador do estado, para me tirar de lá. O ex-vereador Libano Pachá, como era grande amigo do Natel, fez com que o governador Ademar de Barros me absolvesse de uma acusação ilógica. Barros, a partir daí, ligou para o Dops e, imediatamente, ordenou para que eu fosse ouvido pela equipe. Difícil não era ser ouvido – muita gente ficava mais de 40 dias para ser ouvido –, e sim, solto. Em menos de dez dias, a equipe me escutou, graças ao Natel e Ademar, e fui solto. Em São Paulo, estiveram presos comigo o professor Mario Schemberg, físico nuclear da USP, o médico João Burza e Beethoven Tavares. NM – Após sua libertação, voltou para Catanduva e recomeçou sua vida? Frey – Infelizmente fui preso de novo, meses depois, remetido ao quartel do exército de Lins, em 02 de novembro de 1964. Comigo também foram o advogado Vicente Celso Quaglia, Tácito Ribeiro e o professor Luiz Roberto Benatti, ou seja, quase todo o diretório do Partido Republicano. Nessa época apoiávamos um candidato a prefeito em Catanduva e, após voltarmos da prisão, como já havia cessado o tempo para promover propagandas, esse candidato perdeu as eleições. Acabei perdendo o cargo no magistério – era diretor do Grupo Escolar São Francisco – e me aposentaram por ‘vencimentos proporcionais’, que acabei não recebendo os benefícios por dois anos. Fiquei desempregado totalmente. NM – Como pode descrever seus momentos na ditadura? Frey – Não fui torturado fisicamente, mas recebi torturas morais. Alguns companheiros de cela receberam castigos terríveis! Fiquei em sala especial, mas as seqüelas da ironia me perseguiram por muitos anos. Foi a época mais horrorosa da história do Brasil, não havia liberdade de imprensa e comunicação, a boca deveria ficar calada sempre. Tudo era proibido e não havia meios de reverter a situação. NM – Sem emprego e com a moral destruída por causa das perseguições políticas, como fez para tocar a vida? Frey – Para continuar vivendo e sobrevivendo e manter minha família, tive que vender livros pelas ruas de São Paulo. Fui empregado pela Editora Corrente e vendia enciclopédia para jovens e adultos, best-sellers e outros tipos de literatura. Felizmente consegui ganhar dinheiro para sustentar meus filhos e esposa. Minha família morava aqui e eu trabalhava em São Paulo durante a semana. Já não era mais partidário politicamente, a ditadura militar estava forte e acabando com a vida da população brasileira. Nunca mais me candidatei a nada e me desliguei desse meio. NM – Apolítico, o que fez pela cultura de Catanduva? Frey – Nesse mundo, exerci muitas profissões diferentes. Com a saudosa Palma Íride de Roque Rogério, professora de piano, lançamos um ‘conjunto-serenata’; colocávamos os músicos em cima de um caminhão e íamos até a casa das pessoas e cantávamos músicas. Fizemos vários eventos desse tipo. Em 1966-67, o prefeito Borelli me nomeou, além dos professores Paulo Henrique da Rocha e Armando Prandi, para trabalhar na criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Catanduva (Fafica). Fizemos muitas viagens até Araraquara e São José do Rio Preto em busca de professores e fui nomeado primeiro secretário da instituição. Também fui ator de teatro, ao lado de Mário Juliano Pozetti e Ultério Facci. Promovíamos apresentações no Clube dos Bancários (atual Sociedade Ítalo-Brasileira), numa forma de expandir a cultura daqui, com poucos recursos. As duas peças mais importantes que fizemos foi “Filho de Sapateiro, Sapateiro Deve Ser” e “Divino Perfume”. Fui regente-substituto do Coral Santa Cecília, logo após o afastamento do regente-oficial, padre José Valsânia, que ficou doente e teve de ser deixar o posto. Por fim, fui professor de violino no conservatório da Dona Mausi Becker por quatro anos, além de dar aulas particulares em casa para alunos de fora da cidade. Participei de apresentações com a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e Camerata de São José do Rio Preto. Tentei com todas as forças formar uma orquestra em Catanduva, mas não tive incentivo de ninguém. Nos tempos que tinha livre, escrevia poesias. NM – Considera-se um grande batalhador da cultura? Frey – Sim, acho que fiz muita coisa pela minha cidade. Outros que batalharam nesse sentido foram Vicente Quaglia, Alexandre Simeck e Alcy Gigliotti, que foram grandes amigos meus. Atualmente, estou fazendo um curso de italiano, juntamente com minha esposa, Marta Basaglia Frey, além de aulas de fisioterapia. Estou casado há 13 anos com Marta, um casamento cheio de felicidade e falo isso de coração aberto. Saudade * Saudade... Sempre a saudade dos tempos que lá se vão. Saudade... Saudade doente Saudade que embala a gente na rede do coração. Saudade Minha saudade Único bem que me resta Em toda parte em que estou Eu sinto um cheiro de festa E sei que a festa acabou. Saudade Velha saudade Que nunca mais me deixou Saudade do teu carinho Do teu vestido de linho Que o tempo não desbotou! * Edie José Frey escreveu o poema quando faleceu sua primeira esposa, há quase 45 anos

http://www.noticiadamanha.com.br/capa/lenoticia.asp?ID=9620






Um comentário:

Anônimo disse...

Saudade...palavra esta que me consome a alma ao ler e relembrar através desta, a imagem de meu pai.Um ser humano ímpar, humilde, humano e idealista.
Saudades...saudade doente, saudade que embala a gente na rede do coração.