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sábado, 21 de janeiro de 2012

No tempo das Jardineiras em Catanduva.

No tempo das Jardineiras - Parte II
"Os ônibus da empresa Caparroz atendiam praticamente todas as cidades da região, num raio de até 150 kilômetros, inclusive Araraquara, São José do Rio Preto chegando até Marília.

Por volta de 1960, automóveis eram privilégio de poucos e a cidade, além dos pontos de táxi com seus “Ford 48” pretos impecáveis e pneus com faixas brancas, era servida por carroceiros que faziam o  transporte de curta distância  e as charretes utilizadas na locomoção de pessoas.  

O bar do povo na Praça “Monsenhor Albino”, onde hoje está a “Pastelaria da Praça”, era um dos pontos das jardineiras que, mesmo estacionadas, não atrapalhavam o trânsito da então Rua Brasil, de leito carroçável largo, de paralelepípedo e palco de memoráveis desfiles de carnaval e mesmo cívicos. Outro ponto era o Bar do Viaduto, que existe até hoje na Rua São Paulo esquina com Rua Rio Grande do Sul.  

Desses pontos da cidade partiam as jardineiras que faziam o transporte de pessoas para os sítios, fazendas e cidades vizinhas, e que se caracterizavam por possuir somente uma porta dianteira,  e  transportavam até  no seu teto pessoas e mercadorias(que risco!).  Tinha a jardineira do “Mané Vito”, um senhor negro e alto, porém alquebrado, de cabelos grisalhos que fazia a linha Palmares, Pompeu e  Santa Helena. 

A jardineira dos Irmãos Vian, que atendia Caputira, Elisiário, São João do Itaguaçú e Urupês. A jardineira do “turco” era uma espécie de circular, pois fazia somente o percurso Catanduva a Pindorama e vice-versa. Nessa época a  empresa Caparroz & Cia. Ltda., capitaneada pelo sr. João Caparroz, um espanhol rigoroso de baixa estatura,  fazia ponto na estação rodoviária, atual “Estação Cultura”, na Rua Rio de Janeiro, possuía várias linhas e chegou a ter uma frota com  sessenta ônibus. 

Os ônibus da empresa Caparroz atendiam praticamente todas as cidades da região, num raio de até 150 kilômetros, inclusive Araraquara, São José do Rio Preto chegando até Marília. Na empresa Caparroz e na revenda Ford do mesmo grupo em Novo Horizonte, os irmãos José, Clovis e Afonso Oger trabalharam por muitos anos até se mudarem para São José do Rio Preto, onde fundaram a Viação Itamarati, hoje destacada entre as grandes empresas de ônibus do país. 

De Ariranha, passando por Santa Adélia, partia a jardineira do Cizino Araújo, que existe até hoje. Saindo de Olímpia, passando por Tabapuã e  Catiguá, a Empresa de Ônibus Santa Luzia, atual Empresa de Ônibus Tabapuã. Finalmente a jardineira do “surdinho” apelido do Julinho Castilho, que fazia a linha Monte Azul, passando por Paraíso.  

As estradas eram de terra e nem sempre conservadas e,  era comum o encalhe das jardineiras na época das chuvas, transformando a viagem em verdadeira aventura.  Para São Paulo, competindo com os DC3 da Viação Real, que pousavam e decolavam na pista de terra e com o trem da EFA,  transitavam na rodovia Washington Luiz de pista simples, nem sempre bem conservada,  e que ceifou muitas vidas,  os velozes ônibus(não tinham limite de velocidade) da Cobratur,  Expresso Brasileiro e Viação Cometa, esta última atendia também Araraquara e São José do Rio Preto. 

Certamente, era uma época ingênua que hoje habita somente na nostalgia daqueles que a vivenciaram. De lá para cá, o nosso planeta, hoje acolhendo sete bilhões de pessoas, já deu quase cinqüenta e uma voltas  ao redor do sol. Está  próximo de completar 18.600 voltas ao redor de si mesmo, aproximou o homem da lua e está próximo de outros planetas. 

Só não encurtou a distância das diferenças sociais que, na época, seguramente,  era bem menor e favela era apenas cenário de filme(Orfeu Negro)".

advogado tributário 
www.buchadvocacia.com.br 
http://portal.giseleonline.com.br/capa/lenoticia.asp?ID=10235

"Em Catanduva na época em que predominava a lavoura cafeeira, havia grande solicitação de mão de obra para as lavouras, o que lotava as jardineiras. Destacaram-se os irmãos Molina, o Salvador Cabreera e o "Surdinho", que mantinham linhas ligando Catanduva á Novais e Tabapuã."

Informações do livro do Dr Lahós- "Caipira? Nem tanto"




A Primeira da direita é a Jardineira " Marta Rocha"
A jardineira "Marta Rocha" ano 1956 (o nome do modelo foi dado em referência a ganhadora do prêmio Miss Brasil). Como não havia fábrica no Brasil, o chassi era importado dos Estados Unidos e a carroceria era feita em São Paulo, na importadora da marca.

Com espaço para 27 passageiros e carregando as bagagens sobre o teto (o que era um verdadeiro exercício oara seus usuários.


Copiei este texto sobre as características das Jardineiras e de seus passageiros para ilustração desta postagem.
Embora A experiência do autor tenha ocorrido no estado do Paraná,acredito que o "perfil" dos usuários das jardineiras de Cataduva nos anos 50 e 60,  não deve diferir muito 
dos viajantes relatados pelo autor.

"Minha primeira viagem de “jardineira”. E não dá para esquecer essa experiência: dentro do veículo o calor era definitivamente infernal, de fazer tuaregue suar em bicas, um verdadeiro micro ondas ligado sacolejando no ritmo dos buracos da estrada. Era um “pinga-pinga” que parava em tudo quanto era lugar, o que consumia mais da metade do tempo de viagem: subia gente na entrada de fazendas, porteiras de sítios e botecos de beira da estrada. E essas viagens sempre começavam com aquele tal de “mais um passinho para trás, por favor” que o motorista, que era o “xerife” do ônibus e ao mesmo tempo cobrador, dizia aos passageiros. Quanto mais gente se espremia no corredor, mais ele faturava. E, os passageiros, por sua vez, não queriam perder a viagem ou ficar esperando o próximo ônibus, então embarcavam mesmo sabendo que a vigem seria um sufoco. Muitas vezes, havia tanta gente e, como lá dentro já estava tudo ocupado, se sujeitava a viajar até mesmo no alto do bagageiro, enfrentando o risco de um acidente fatal no meio da estrada... Cada um que subia, trazia uma bagagem que parecia uma mudança. Tinha de tudo: engradados com galinhas ou pássaros, sacos de frutas, máquina de costura para levar ao conserto, café em grão torrado, sacos de pão feito no forno de casa, enfim, eram encomendas de amigos ou para vender na cidade. Imaginem a loucura que era subir esses volumes no teto do ônibus e amarrá-los na “gaiola” (bagageiro adaptado no alto da condução), pois os carros ainda não tinham os bagageiros embutidos abaixo das poltronas como hoje). Enquanto eram feitos esses “procedimentos”, o povão espremido lá dentro do ônibus sob um sol de 40º. Essa via-sacra só terminava quando dentro e em cima do ônibus estivesse tudo lotado, uma verdadeira lata de sardinhas humanas... Mas, a aventura estava apenas começando para quem tinha que voltar em outra “jardineira”, que saía de Umuarama no fim da tarde. Ao chegar ao ponto final, na cidade, onde hoje é a Praça Arthur Thomaz, depois de horas de penúria, havia mais confusão: todo mundo descendo rapidamente, querendo sempre ser o primeiro a sair em disparada para as compras ou passeios. Mas, antes, havia a ginástica de tirar todos os bagulhos lá de cima do ônibus. Não era raro o motorista (chamado de “chofer” na época) ter que aplicar um corretivo verbal nos mais afoitos a fim de colocar ordem no caos que se estabelecia entre os passageiros rodeando o ônibus exigindo pressa. O pôr-do-sol coloria a pequena cidade de vermelho e a “jardineira” já estava lotada por aqueles que tinham vindo de manhã. Era a hora do “lusco-fusco”, pois já não era mais dia e também ainda não era noite. Começava a desanimada volta para casa, depois de um dia inteiro de alegria batendo pernas e gastando no comércio. Cansaço geral. O “chofer” pisa firme no acelerador, contornando buracos e curvas, descendo morros e subindo ladeiras com o motor rugindo a todo vapor, soltando fumaça como um dragão enfurecido. Lá dentro, crianças com a barriga roncando de fome, depois de muito brincar. As mães desamarram trouxas e tiram sanduíches de mortadela gordurosa. O cheiro forte se mistura com todos os outros odores dentro do ônibus e com o aroma da mata que o vento insistia em trazer para dentro, refrescando a “jardineira”. Tubaína para fazer descer o lanche goela abaixo. Os velhos roceiros, gente de muita coragem na lavoura mas de poucas letras e nenhuma noção de boas maneiras, acendiam em plena viagem aqueles cigarros de palha de milho com fumo de corda. O fétido fumacê levava a turma toda à fúria. Cof-cof-cof, tossiam as crianças e mulheres. Cof-cof-cof, respondiam os pulmões da rapaziada. E o motorista, lá na frente, preferia fazer cara de paisagem ignorando o drama da platéia, mais preocupado em limpar o lado interno do pára-brisa empoeirado, para poder ver melhor um palmo à frente do pára-choque. E lá ia o velho ônibus ziguezagueando aos trancos e barrancos pela estradinha escondida na completa escuridão. E a galera sufocada no meio da fumaça do “palheiro” a protestar. No regresso, a “gaiola” ia lotada de quinquilharias: panelas, produtos enlatados, utensílios domésticos, ferramentas, enfim, tudo o que possa se imaginar comprado na cidade. Uns batendo nos outros e todos zabumbando lá em cima. E as comadres tagarelando sobre o que haviam visto nos bazares (lojas) e não puderam comprar. E a homarada lá no fundão, a “cozinha”, o lugar mais detestável da viagem: quem sentava lá comia toda a poeira levantada pelas rodas dianteiras durante o percurso, que grudava no suor do rosto, deixando visível apenas o branco dos olhos, uma máscara de areia... As “jardineiras” percorriam a estrada “mestre”, ou seja, a principal, ficando as outras, piores e mais estreitas, para os “paus-de-arara”, caminhões improvisados com uma cobertura de lona e com bancos de madeira, onde se sentavam os migrantes e bóias-frias (trabalhadores) que madrugavam para ir laborar nas fazendas. Essas viagens eram ainda mais penosas e perigosas, podendo tombar a qualquer momento. No raiar dos anos 60 é que começaram a circular os ônibus mais confortáveis, com as linhas abertas pela Viação Garcia e Expresso Maringá e, a seguir, a Viação Umuarama. Em dezembro de 1960 vim morar em Umuarama. Naquele Natal festejei: nunca mais teria que viajar numa “jardineira”. No final daquela década iniciei a minha carreira de jornalista. Como repórter, voltei a percorrer as estradas do Noroeste fazendo a cobertura regional. Mas aí as estradas já eram bem melhores, mas ainda não estavam asfaltadas. Continuei comendo poeira, chacoalhando o esqueleto pelos caminhos da vida e algumas vezes encalhando nesses rincões de meu Deus. Mas todas essas experiências valeram lembranças inesquecíveis que hoje embalam a saudade de um tempo que não volta mais. Eram tempos difíceis, mas muito mais prósperos e cheios de esperanças que estes que atormentam o agora, com caminhos que parecem levar a lugar nenhum."(ITALO FÁBIO CASCIOLA)
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