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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Partido Alto- Chico Buarque,1972






Essa música de Chico Buarque, gravada em 1972, e imortalizada no show/disco que “Caetano & Chico - juntos e ao vivo”, gravado no Teatro Castro Alves, em 10 e 11 de novembro de 1972, revela como a censura da época atuava. Mais recentemente, foi regravada no cd Acústico de Cássia Eller.
No livro da coleção “História de canções”, sobre as histórias das músicas compostas por Chico Buarque (Ed. Leya, 2009), Wagner Homem relata o despacho da censura:
 “Se é engraçado ou uma infelicidade para o autor ter nascido no Brasil, país onde vive e encontra esse povo generoso que lhe dá sustento comprando seus discos, e pagando-o regiamente nos seus shows, afirmo que ele está nos gozando. Opino pelo veto.
 Para resolver a quizila, Chico teve que substituir a palavra “titica” por “coisica”, e substituir “brasileiro” por “batuqueiro”. E ainda assim, mesmo com a música liberada, teve que ouvir uma singular apreciação de sua obra:
“Como é que você, que fez uma música tão bonita como ‘Construção’, agora vem com esta, falando de titica e saco cheio?
Parece pré-histórico, mas foi há mais de 40 anos. Parece impensável que questões tão pequenas, e que parecem ridículas diante de determinadas letras da atualidade, chamavam a atenção da censura. Tratava-se de um juízo moral, que não tinha nada a ver com os pretensos objetivos do governo militar.
P.S. O vídeo acima, obviamente, não é do show de 1972. Pelo que sei, não há registros visuais daquele momento histórico.

Revista Pop, Ed Abril- Dez de 1972.


É curioso como raramente cita-se entre os melhores de 1972, o álbum Caetano e Chico juntos e ao vivo – gravado no Teatro Castro Alves,Salvador, Bahia.(em dois shows, nos dias 10 e 11 de novembro). O disco foi um dos mais vendidos e tocados do ano, obrigatório em toda festinhas de estudante. Mas não é por causa do sucesso comercial que Chico e Caetano juntos e ao vivo deve figurar entre os grandes discos lançados no Brasil.
Em 1972, a poeira levantada pelo turbilhão anos 60 havia abaixado. O período de transição entre mudanças propostas, ou levadas a efeito, acabou naquele ano. Merecia uma placa: “MPB, agora sob nova direção”. Por direção, entenda-se rumo. Caetano Veloso havia voltada da temporada forçada em Londres. Voltava também Chico, depois de uma temporada, não forçada, muito mais para evitar o sufoco, no periodo mais pesado da ditadura.
No final da década de 60, eles se viram em campos opostos. Caetano e Gil eram vanguarda, o novo. Chico, o conservador. Na realidade eram visto assim mais pela imprensa, que passava a ideia para o público. No auge do radicalismo da Tropicália, Chico cantava num festival, e a plateia vaiava. Gilberto Gil, levantou-se para pedir que as vaias parassem. Do palco parecia que ele estava do lado dos que vaiavam. Criou-se um clima ruim entre eles.
No Álbum branco,  lançado por Caetano, em 1969, pouco antes de ir morar em Londres, mais um mal entendido. A interpretação de Carolina suscitou outras interpretações. Onde havia recriação, foi detectado deboche, e logo com a mais lírica das canções de Chico.
Ao retornar aos estúdios, Chico estava diferente. Suas letras, menos lirica. Algumas, violentas, como pediam a época. De certa forma ela fez o que prometeu no samba Agora falando sério: “Dou um chute no lirismo, Um pega no cachorro, E um tiro no sabiá”. Contrução foi o disco, de 1971, em que ele mudou sua estética poética. Nos proparoxítonos de Construção, ou na caótica Deus lhe pague. Não por acaso, os arranjos do disco são do maestro Rogério Duprat, um dos mais solicitados pelos tropicalistas.
E aí veio o show, no Teatro Castro Alves.
Não se pode esquecer que ele aconteceu com dois grandes ídolos populares, considerados adversários ideológicos do governo militar. Sem duvidas, agentes do Dops fariam parte da plateia do teatro baiano. Na estreia do show, a noticia do suicídio de Torquato Neto, tropicalista de primeira hora, mas que passou a divergir da linha dos baianos. Foram em frente. E não podiam ter feito melhor. Apesar dos pesares.
Parte das palmas, teve som aumentado para encobrir expressões de versos censurados de Atrás da porta (Chico e Francis Hime), Partido alto (Chico Buarque), Barbara e Ana de Amsterdam (as duas da banida peça Calabar).
A plateia delirou com o espetáculo que mostrava que antes de antagônicas, as canções de Chico Buarque mantinham fortes elos com a de Caetano. A junção de Você não entende nada com Cotidiano, duas canções recentes, e Partido alto, cantado por Caetano com voz de bêbado, foram os pontos altos do disco. Passaram a repertório de barzinhos e de rodas de violão da estudantada.
Chico e Caetano juntos e ao vivo fez ver que a MPB livrara-se dos anos 60. Aquilo que os dois mostraram no Castro Alves era novo, apontava novos caminhos para a música popular brasileira.

http://velhidade.blogspot.com.br/2011/07/chico-buarque-e-caetano-veloso.html
http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/toques/tag/caetano-e-chico-juntos-ao-vivo/
http://musicaemprosa.musicblog.com.br/248666/Partido-Alto-Chico-Buarque/

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