Não havia essa quantidade de cocô de cachorro nas calçadas dos bairros residenciais. Dava-se corda nos relógios. Era tranqüilo caminhar pelas ruas à noite. O papel higiênico era vendido em pacotes de um rolo, embora as famílias fossem maiores. As virilhas não eram depiladas. Helicóptero não era transporte urbano. Motocicleta era diversão dos fins de semana. Os filmes faziam menos barulho. Os vendedores de livros conheciam as obras; pelo menos sabiam do que se tratava. Os bancos lucravam bilhões e não cobravam mensalidade para você deixar seu dinheiro com eles nem para lhe fornecer um simples talão de cheques.
Polícia era polícia, bandido era bandido. Jogadores de futebol habilidosos davam dribles humilhantes, faziam embaixadas, passavam a bola pelo meio das canelas dos adversários, davam chapéus. A justiça era apenas cega. O natal era melhor. O carnaval era melhor. O sábado de aleluia era melhor. A buzina era um recurso para chamar a atenção de alguém e evitar acidentes. As famílias podiam ir sem riscos aos estádios de futebol. Os apartamentos construídos para as famílias de classe média tinham espaço para os móveis. As meninas de 12 anos brincavam com boneca.
A escola era pública, a rua era pública, a saúde era pública, a opinião era pública. Privada era outra coisa. Manga com leite fazia mal. Havia garoa. O beijo era uma intimidade, não um espetáculo. Parlamentares parlamentavam. Ministros ministravam. Presidentes presidiam. E os garotinhos empinavam pipas.
Ah... e pizza não era coisa feia.
Autor desconhecido
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