Quando não existia, como hoje, um telefone capaz de mostrar a pessoa com que falamos do outro lado, a distância era cruel.
Lembro de meu pai viajando a trabalho: cada vez que telefonava, era uma festa! Ficávamos esperando ansiosamente o seu telefonema. Ainda hoje posso ouvir sua voz distante; ela está em mim para sempre. Quem diria, saudade de um telefone!
Do que temos saudade hoje em dia?
As pessoas estão longe, mas perto. Falo com qualquer um pelo celular podendo ver a pessoa em “tempo real”. Do que temos saudade hoje? Penso nisso sempre e chego à conclusão de que o que me restou foi saudade das lembranças.
Tenho saudade da pipa, bola de gude, do futebol alegre jogado nas ruas, da infância, da juventude. Tenho saudade de mim.
Tenho saudade da carta, que carregava toda a emoção ao ser recebida.
Tenho saudade até do selo colocado nela. Para mim era um beijo final que se dava naquele pacote de letras. Algo assim como um sinal de respeito, por termos fincados nossa emoção no papel. Vejam, beijava-se as palavras!
Tenho saudade do bate papo de verdade, em que se podia sentir o hálito dos falantes e pegar nas mãos dos tristes.
Tenho saudade do primeiro beijo, do segundo e do terceiro. Aquele beijo real que se dava no rosto, na boca e na alma. Nada de beijo virtual, espiritual e intelectual, como hoje
Tenho saudade dos partos, quando não se sabia antecipadamente o sexo da criança. E, por isso, tudo era intensamente vivido. O nascimento acontecia e nós éramos expelidos juntos. Quase sangrávamos com a mãe.
Hoje, claro, se sente saudade, mas nem tanto das pessoas – a não ser daquelas que se foram – mas de momentos. Isso porque a tecnologia aproximou tudo e todos. A saudade de hoje não é como a de antigamente, mas ainda existe. E é por isso que merece ser declarada, neste veículo de saudade coletiva.
A saudade fere, entristece a cura. Mas é dignificante senti-la. Para mim, ser humano de verdade é aquele que confessa que sente saudade. Não que os demais sejam seres “de mentira”, são apenas “diferentes”. Quem não sente saudade, esconde a alma de si.
Envio-lhes meus mais calorosos abraços. Desse que os ama, mesmo que a saudade de hoje não seja como antes.
Aos amigos distantes, ainda que não os conheça em carne e osso.
Escrevo, deixando-lhes meu selo, pregado nestas palavras virtuais.
Quero entregar-lhes minha carta, porque hoje sou remetente.
Fraternal abraço.
Eduardo Pastore